Lênin Landgraf e Lilian Oliveira Trevisan Lima
A vilegiatura e o balneário Cassino
Por Lênin Landgraf, Mestre em História, [email protected]
e Lilian Oliveira Trevisan Lima, Professora, graduada em História Licenciatura (Furg)
O balneário Cassino, em Rio Grande, é mais um dos pontos turísticos da cidade mais antiga do Estado. Fundado em 1890, inspirado nos balneários existentes na Europa e no Uruguai, aproveitou-se durante muito tempo da fortalecida malha ferroviária do final do século 19 e início do século 20. Ao longo das décadas foi cenário de fatos marcantes, como o lançamento dos foguetes pela Nasa em 1966, o naufrágio do navio Araçatuba em 1933 e o encalhamento do navio Altair (ainda visível) em 1976. Mas afinal, por quais motivos nos reunimos em balneários ao longo de nossa costa?
Com o início do verão é muito comum que milhares de pessoas se dirijam ao litoral para aproveitar as inúmeras maravilhas que encontram ali, entretanto, nem sempre foi essa a relação que as pessoas tinham com o mar. Até por volta do século 17, o oceano era encarado com um certo pavor que era até mesmo respaldado em passagens bíblicas como o dilúvio, fazendo com que a imensidão de água fosse interpretada como uma forma de punição dos pecados.
Foi em meados do século 18, principalmente na Inglaterra, que a mentalidade das pessoas em relação ao mar passou por um processo de transformação. Muitos médicos ingleses passaram a confiar nos benefícios da vilegiatura terapêutica, isto é, o tratamento de pessoas enfermas sendo realizado em uma temporada afastada da cidade, geralmente no campo, em regiões com águas termais e, posteriormente, no mar. Todavia, passar um longo período afastado de sua vida cotidiana era um privilégio para poucos, fazendo com que inicialmente essa prática estivesse reservada apenas a uma pequena elite culta e viajada, o que foi fundamental para que ela fosse se espalhando por toda a Europa e logo levada pelos imigrantes europeus para vários outros lugares do mundo, inclusive o Brasil.
No litoral gaúcho essa prática foi amplamente difundida na transição do século 19 para o 20, justamente nesse período surge o Cassino. A princípio, a maioria das regiões não estava preparada para receber os vilegiaturistas, fazendo com que esses precisassem levar consigo tudo o que fosse necessário para a temporada que passariam no mar, principalmente no litoral norte. Contudo, com a demanda aumentando, começaram a surgir vários empreendimentos destinados a essas pessoas, principalmente hotéis e serviços de diligência, além terem sido realizadas melhorias nas estradas que ligavam as principais cidades ao litoral, facilitando assim a vilegiatura.
Ademais, com cada vez mais adeptos dessa prática, estes faziam seus relatos a amigos e familiares, além de enviarem fotografias e cartões postais com imagens do litoral. Somando isto à publicidade em que os hotéis passaram a investir, o desejo pelo mar despertou em muitas pessoas que ainda não o conheciam. Nesse momento as pessoas começam a se desprender um pouco das regras da vilegiatura e passam a ser mais independentes em sua relação com o litoral, abandonando o caráter terapêutico e adotando uma vilegiatura apenas por lazer e entretenimento, nascendo assim a temporada de veraneio como é conhecida hoje.
Certamente a prática da vilegiatura influenciou na construção e fortalecimento do balneário Cassino. Passado mais de um século, continuamos a "veranear" em nossas praias durante o verão, movimentando a economia, impulsionamento o desenvolvimento, mas principalmente guardando boas memórias para o futuro.
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